Uma lembrança que leva a outra


Blá, blá, blá, blá. Isso é o que eu escuto sair a boca da professora de genética. Queria ter ficado na cama por mais meia hora esta manhã. Não consigo prestar atenção na aula, pois minha mente está vagando bem longe. Está perto de tudo que tenho saudade. Fecho os olhos e estou a quilômetros daqui, deitada na cama do meu namorado e sentindo-o aspirar a fragrância do meu cabelo. E então em um milésimo de segundo não estou mais ali. Estou agora nos meus 2 anos de idade, quanto minha mãe estava grávida do meu irmão. Como sinto falta da minha infância. E, de repente, com um aperto no coração sou transportada para a memória da minha infância que me dá mais saudade: meu avô. Seu sorriso, sua voz, seu cheiro. Seu abraço. Por que ele tinha que ir embora tão cedo? Antes mesmo que eu possa responder sou transportada novamente para alguns meses atrás. Minhas férias! Que saudade do meu tempo livre. E então estou na sétima série, quando eu não precisava estar de férias para ter tempo livre. Por fim estou novamente na sala de aula e percebo que na verdade o que estou com mais saudade é de viver. Não, não estou vivendo. Estou sobrevivendo. Quando foi a última vez que me senti viva? Nem me lembro. Só agora é que me dou conta o quão meu ser sente falta disso, desesperadamente. É normal isso? Sentir falta de viver? Pisco o olho e estou agora na casa que morei até meus 15 anos, no meu antigo quarto. Mas estou ali deitada na cama e ao mesmo tempo estou no quintal brincando com minha primeira cachorra. Hoje ela está no céu, fazendo companhia ao meu avô. Estou agora em alguma praia, sentada na areia, olhando o mar. Sentindo a brisa nos meus cabelos. Me sentindo feliz. Não consigo entender qual é a ligação que existe entre todos esses pensamentos, como uma lembrança acaba puxando outra. O que é que liga essa praia com a cama do meu namorado? Mas antes que eu consiga pensar muito sobre isso já estou distraída em outra lembrança, em outro tempo e espaço, bem longe daqui.

Comentários

  1. Na maioria dos dias eu também sinto que não estou vivendo, e sim sobrevivendo. Acredito que as lembranças estão ali para nos dar forças e continuar.

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  2. Olha... Eu me sinto exatamente como você apesar de que muitas lembranças são diferentes. Afinal, tem que ser diferentes, certo? Cada um teve a sua vida. Mas eu me sinto exatamente desse jeito, sobrevivendo.
    Muito bom o texto e muito lindo o blog. Tô retribuindo a visita e já tô te seguindo também, ok? Beijos!

    marcianadaterra.blogspot.com.br

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  3. Vasculhar as lembranças boas, pode ser uma forma de encontrar motivos para viver, ou melhor (re)viver, de um jeito diferente.

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  4. Nossa, que texto lindo. Me emocionei lendo, até parece que você veio aqui, conversou comigo e depois escreveu ele, como se todos os meus sentimentos você tivesse entendido.
    Amei.
    Beijos! <3 =***
    http://www.fadasemdevaneios.com.br/

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  5. Que texto mais perfeito esse, adorei demais!
    www.espacegirl.com

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  6. Oi Anna...caramba, às vezes somos bombardeadas de pensamentos e memórias... Eu já senti o que é estar sobrevivendo, mas em uma outra situação... temos que assumir o controle, e não simplesmente dar uma de zeca pagodinho e deixar a vida nos levar... difícil...
    Muito bom seu texto!!

    Bjinhos
    Ju
    asbesteirasquemecontam.blogspot.com.br

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  7. Me senti completamente no texto, desde a ala chata até pensar no porque do me avô ter ido tão cedo - saudades do meu veio :c.
    O texto fico muito bonito, parabéns.

    Capricornizando

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  8. Fico muito feliz em ver que vocês conseguiram encontrar um pouco de vocês mesmas no meu texto, meninas. É bom saber que não sou a única no mundo que passa por isso ;)

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