Sobre meu intenso caso de amor de uma semana



Às vezes a vida nos surpreende de uma forma tão intensa que nos desmonta. Intensidade. Essa foi a palavra que me marcou essa semana. Talvez eu nunca tenha vivido algo tão intenso assim em toda minha vida. Seu olhar parecia sempre normal, despretensioso, até que encontrava o meu e ganhava intensidade. Por vezes eu ficava fascinada, hipnotizada pela intensidade dos nossos olhares; outras vezes eu ficava tão assustada que enterrava minha cabeça no travesseiro.

Você me disse que é louco por sempre fugir, e eu te respondi "quem não é louco? quem não tem vontade de fugir?". Ao tentar entender suas fugas pude perceber as minhas próprias. Vou vivendo intensamente e evitando pensar sobre meus sentimentos, porque sei que quando paro pra fazer isso tudo desmorona. E eu tava muito bem na minha fuga, muito feliz com o que estávamos vivendo, até você questionar "o que é essa intensidade? o que é nós dois? como vai ficar depois?". Sim, essas palavras me desmontaram. Fisicamente, na posição que eu estava, mas também emocionalmente e estruturalmente. E parar para pensar sobre isso me fez cair num abismo que parecia não ter fim.

Tô sentindo tanta coisa, pensando tanta coisa, mas as palavras simplesmente estão engasgadas. Não consigo formar uma linha lógica no texto, vou apenas cuspindo frases soltas e desconexas e esperando que elas façam algum sentido. Isso é sintomático, reflete a confusão que você me deixou aqui dentro - junto com a saudade e a intensidade.

Você me pede um texto sem edições. Fico ansiosa, receosa, empolgada, com medo. Quero mandar mas ao mesmo tempo não quero. Ou, talvez, não sei se quero. Não sei se devo. Você me diz que não quer edição e sei que não é à toa, você quer ter acesso ao meu pensamento cru, ao meu sentimento bruto. Você quer entrar dentro da minha cabeça e entender como ela funciona - sem maquiagem, sem máscara, sem edição. Isso me empolga, e ao mesmo tempo me assusta. Tenho vontade de me jogar de cabeça, deixar você mergulhar nas minhas profundezas, e mergulhar nas suas também; mas tem algo me prendendo, me impedindo, dizendo "acho que é melhor não".

Tantas vezes pensei inspirada em você e quando tentei escrever fiquei bloqueada. Vivemos algo tão lindo e profundo, que eu queria escrever tal qual. Criei altas expectativas pra um texto que nem comecei a escrever ainda, e talvez o que tem me travado seja o medo de não conseguir alcançar essas expectativas. Minhas expectativas, suas expectativas. Para o texto, para o depois do texto.

Liguei o foda-se e resolvi te deixar ver a melhor parte de mim sem edição - morrendo de medo de que, na verdade, essa seja a pior parte de mim. Enquanto você lia e eu esperava sua reação, minha cabeça gritava "o que você tá fazendo? porque você mandou isso? porque você tá permitindo que ele entre tanto em você se sabe que depois isso vai dar em merda?" e ai, quando eu já me arrependi completamente de ter enviado, você responde que adorou e ficou arrepiado. E eu não sei como me sentir em relação a isso a não ser ficar assustada.

Tudo isso me assusta tanto! Você, sua intensidade, minha intensidade, a profundidade com que estamos mergulhando, expor meu texto sem edição, expor meu eu sem edição. E eu não aprendi ainda a lidar com esse frio na barriga que você me causa.

Nunca fui muito boa em concluir as coisas. Fico rodando os pensamentos procurando um final pra esse texto e não encontro. Acho que estou com a sensação de que o final do texto deveria trazer uma solução para o problema, e eu não consigo finalizar porque não consigo encontrar uma solução. Enquanto isso vou escrevendo, escrevendo, escrevendo... Talvez escreva até ter páginas suficientes para fazer um livro. Talvez escreva só até pegar no sono. Talvez eu desista e encerre esse texto sem um final. Por favor, quem foi que disse que todo texto precisa de um final?!


Texto escrito em 2016.

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