Primavera que segue




Meu estágio está encerrando, e hoje eu finalizei o atendimento com uma paciente que acompanho desde maio. Para minha surpresa, quando cheguei na sala a vi com flores. Eram para mim. Entre lágrimas ela me abraçou e agradeceu por tudo o que fiz por ela. Nos lábios existia um sorriso de felicidade. Com o coração apertado já de saudade nos despedimos, e quando ela deixou a sala foi a minha vez de chorar enquanto sentia o aroma das flores. Recordei de quando era adolescente e sonhava em mudar o mundo. Entendi que o mundo era muito grande, e eu muito pequena. Então, percebi que eu podia dar minha contribuição para mudar o mundo de outra forma - mudando pessoas. 

Aos 16 anos escolhi cursar psicologia porque queria ajudar a mudar a vida das pessoas, ajuda-las a serem a melhor versão delas mesmas. Ouvi muitos comentários de "mas psicologia não dá dinheiro, vai morrer de fome" ou "você é tão inteligente, deveria fazer medicina ou direito", mas não deixei que nenhum deles fizesse eu repensar nem por um segundo sequer minha decisão. Segui meu coração, e nunca me arrependi. Foram cinco anos muito difíceis, sofri muito para aprender e amadurecer, mas a cada dia me apaixonava ainda mais pela psicologia e pelo caminho que escolhi pra mim. Sonhei tanto com isto, e vivi este sonho, batalhei muito por ele. Estudei, estudei, estudei, e ansiosamente esperei pelo dia em que estaria frente a frente com alguém que faria tudo aquilo fazer sentido e valer a pena. 

No início deste ano minha vivência prática finalmente começou a partir do meu estágio em Psicologia Clínica. No início cheia de inseguranças - "será que eu tô fazendo do jeito certo?", "será que o que falei foi bom?", "será que minhas intervenções estão realmente ajudando a paciente?", "será que ela ta me achando incompetente, porque sou muito nova e ainda não tenho experiência ou maturidade?" - e com o passar do tempo se diluíram a cada feedback positivo que eu recebia da minha supervisora, da minha professora orientadora, e também das pacientes. Hoje, encerrando esta Gestalt, finalmente colhi as flores do meu trabalho. E meu sentimento é de felicidade, alívio, angústia, saudade, satisfação, realização... Dever cumprido.

Acho que, por fim, consegui ajudar algumas pessoas. Com encontros de 45 minutos, uma vez por semana, durante alguns meses, conseguimos transformar algumas dores em flores. Consegui ajudar algumas pessoas a se enxergarem, a se entenderem, a melhorarem, a florescerem. E na beleza do encontro eu-tu, florescemos juntas. Foram encontros que marcaram, mudaram e transformaram vidas - as delas e a minha. Com um abraço de despedida, minhas pacientes encerraram o processo me agradecendo, e mal sabem que, nisso tudo, quem mais tem a agradecer sou eu. 

Primavera que segue.

Comentários

  1. O em si mesmo mergulhar profundo mostra ao homem quão pequeno é o mundo.
    GK

    ResponderExcluir

Postar um comentário