Juntas


Amiga,

Tua dor é minha dor. Tuas lágrimas, as minhas. E aquele homem que te molestou, fez isso também a mim. Eu senti, bem aqui, dentro do peito. Senti no estômago embrulhado, no nó da garganta, no choro, nas mãos trêmulas, nas pernas que inconscientemente se fechavam - na tentativa de proteger aquilo que eles tratam como objeto e reivindicam a posse.

Eu sinto muito pelo que você passou, e espero que nunca mais aconteça contigo tamanha violência. Nem comigo. Nem com minha futura filha, nem a sua, nem as amigas delas, nem as nossas mães, nem aquela senhora que faz faxina no meu trabalho, nem aquela menina que vende pipoca no sinal. Nem a branca, nem a negra, a índia, a pobre, a rica, a trans, a criança, a idosa. Em meio a tanto desespero, tenho forças apenas para suplicar a Deus que nenhuma mulher nunca mais passe por isso.

Um pedacinho de você morreu no momento em que seu corpo foi tocado sem permissão, e um pedacinho de mim morreu ao ouvir o seu relato. Mas você segue viva, e eu também. Juntas, nós seguimos, vivemos e resistimos. Transformamos nossa dor em luta. Juntas, não se esqueça disso. Levantemos nossas vozes para enfrentar aqueles que não entendem, não aceitam ou não permitem que mulheres sejam tratadas como seres humanos. E assim, um dia, o mundo será um lugar melhor, onde nós seremos tocadas apenas por quem quisermos, onde quisermos, quando quisermos.


* Em caso de violência contra a mulher, seja sexual, física, verbal, psicológica, moral ou doméstica, ligue 180 (Central de Atendimento à Mulher).

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