Inédito



Quando a porta do quarto foi fechada ela se deu conta de que, em um total de cinco semanas de encontros, conversas, filmes, beijos e amassos, essa era a primeira vez em que os dois se deparavam sozinhos em um local fechado e reservado. Um sorriso presunçoso rasgou-lhe os lábios, o que deixou ele nervoso e excitado ao mesmo tempo. Sem desperdiçar os segundos preciosos, tiraram a parte mais pesada de suas roupas, como já ensaiavam há semanas, e deitaram-se na parte de baixo da beliche. A dualidade provocada pela intimidade em um quarto que pertencia também a outra pessoa quebrava a noção de espaço privado, mexendo com o fetiche de exposição que ela tinha desde os tempos de adolescência. O coração acelerado e a umidade em meio a suas pernas comprovavam.

Inicialmente ele ficou por cima. Afogou-a em beijos quentes e fora de compasso enquanto seus dedos percorriam as curvas daquele corpo que ele tanto admirava e desejava, desde as primeiras fotos que havia visto no aplicativo de paquera em que se conheceram. Em meio às risadas das tentativas dificultosas e fracassadas de desnudar um ao outro no espaço ínfimo e limitado, ele jogou para longe o sutiã dela, emocionado de pensar que finalmente seus olhos a contemplavam inteiramente desvelada, preenchendo assim as lacunas que sua imaginação havia se esforçado tantas vezes para completar. 

Ele ardia de desejo, ia com sede demais ao pote, mas ela gostava de torturar um pouco, preferindo movimentos lentos e sensuais a sexuais e explícitos. Dedicava-se com afinco ao jogo de sedução, às provocações dos toques sorrateiros que só aumentava o desejo de ambos, à ardência pulsante provocada pelo atrito constante e ritmado dos corpos. Desse modo, a culminância do ato acontecia de forma intensa, onde não estava mais em jogo o querer, mas o necessitar. O contato primeiro trouxe uma sensação ambígua de alívio e apogeu, prazer extremo que ainda nem é clímax mas já parece saciar ganas primitivas, fazendo-lhes ceder a grunhidos esdrúxulos e não intencionais. Risadas nervosas seguiram tal ato quando retomaram momentaneamente o controle de seus próprios corpos e iniciaram a coreografia. 

Plié. Frappé. Plié. Frappé. Plié. Frappé. Plié.

O ápice trouxe inércia e um formigamento gostoso. Corpos exaustos ruíram lado a lado, a pulsação desacelerando e os pulmões brigando para retornar ao estado de normalidade. Foi nesse momento que os olhares se conectaram, irrompendo em risadas bobas e cúmplices. O sentimento que restou era ambíguo. Nada era novidade, mas tudo parecia inédito.

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